domingo, 23 de dezembro de 2007

Da Onde vem as Doenças?

BOA NOITE!

Hoje eu gostaria de falar um pouco sobre a diferença na visão da Medicina Ocidental e Oriental sobre o modo como adoecemos.




Desde os primórdios de nossa evolução que entendemos que a doença não aparece do nada. Xamãs e Pajés nos explicavam (e muitos ainda explicam) que doenças são obras de espíritos maléficos ou retribuição de alguma forma de divindade pelos nossos erros.

Durante a evolução desse pensamento a Medicina Tradicional Chinesa (MTC - Acupuntura) e a Medicina Ocidental (Alopática/Baseada em Evidências) tomaram rumos muito distintos.

Enquanto as etiologias da MTC estão imutáveis há mais de 3000 anos, a Medicina Ocidental está em uma constante busca por novos e mais refinados métodos para entendermos da onde vem nossas doenças.




MEDICINA OCIDENTAL

Hoje sabemos que a antiga teoria de que "doença vem de fora" não é tão mais correta. Por mais elaborado que seja o microscópio, muitas vezes não conseguimos descobrir nenhum microrganismo (bactéria, fungo, parasita, vírus), que possamos culpar como causador dessa ou daquela doença. Algumas vezes é nosso próprio corpo que de uma forma ou de outra cria o fator que está nos fazendo mal.

Muitas doenças que antes eram incuráveis estão sendo investigadas para se descobrir de que gene, que cromossomo, qual proteína está causando esse quadro. Isso foi uma grande evolução e ajudou muito a entendermos o funcionamento do nosso sistema nervoso, endócrino (hormonal) e imunológico (de defesa).

Hoje existem pesquisas muito grandes e bem patrocinadas em medicina do placebo (a famosa "pílula de açúcar" que é dada como se fosse remédio de verdade e acaba curando a pessoa de muitas doenças, inclusive Câncer) e a medicina somática (onde se estudam as emoções e como isso pode levar a doenças). No entanto não são todos os médicos que aceitam essas pesquisas e não são todas as doenças que podem ser explicadas e curadas por esses modelos.

A maior limitação do modelo atual de Medicina Baseada em Evidências, é que muitas vezes não se encontra nada para explicar de onde vem essa ou aquela doença. E acaba se dizendo que a doença é "idiopática" que se traduz como "sem causa".

E se uma doença não tem causa, fica muito difícil tratá-la, pois os esforços de cientistas e da indústria farmacêutica em geral foi no sentido de achar a causa e a "cura" para essa causa específica. E lembre o que falei na coluna "Então Medicina ou Acupuntura?" quando se fala em medicamentos tudo é muito bom, desde que você não seja a excessão estatística na qual o medicamento não funciona.



MEDICINA TRADICIONAL CHINESA

Existem apenas 3 formas de se ficar doente na MTC: Internas, Externas e Nem internas/Nem Externas.

INTERNAS: São as emoções. Na MTC sempre se soube que as emoções são uma das causas mais importantes de doenças. As Cinco principais emoções prejudiciais são:

Melancolia/Tristeza ;
Medo/Ciúme ;
Raiva/Frustração ;
Inconsequência/Excesso de Alegria Aparente ;
Preocupação/Pensamentos Recorrentes.

Lógico que cada um desses termos tem conotações diferentes para as diferentes pessoas, mas se bem analisados todos nossos sentimentos negativos podem ser classificados em uma dessas Cinco Categorias.

EXTERNAS: São os fatores Climáticos. O clima é sempre presente, o corpo humano se relaciona com os fatores climáticos de maneira complexa. As causas Climáticas de interesse são:

Secura;
Frio;
Vento;
Calor de Verão;
Umidade.

Esses fatores isolados ou em combinações causam todo tipo de doença. Um Vento Frio pode causar desde Má Digestão até Paralisias Faciais. Um Calor Úmido pode causar desde Excesso de Espinhas e Alergias até Inflamações e Furúnculos. E assim por diante.

NEM INTERNAS / NEM EXTERNAS: Esse agrupamento é tudo o mais que possa causar um desequilíbrio. Engloba:

Alimentação,
Excesso de Trabalho,
Excesso de Atividade Física /Mental / Sexual
Traumas e Lesões
Parasitoses e outras alterações por animais e plantas.


Interessante notar que nos textos antigos de Medicina Chinesa a maneira mais comum de adoecermos era de Etiologia Externa (climática) e agora a maneira mais comum de adoecermos passou para a Interna (emoções) e Nem Interna / Nem Externa (excesso de trabalho, estresse, alimentação incorreta).

Com essa classificação a MTC consegue de maneira muito segura fazer o tratamento de doenças tão distintas como Câncer e "bola na garganta que sobe e desce".

Por isso que muitas vezes as pessoas com a mesma queixa podem ter tratamentos muito distintos e queixas distintas podem ter os tratamentos muito parecidos.
Exemplo: Dores de garganta podem ser devido a invasão de Frio ou de Secura e os tratamentos são diferentes. Enquanto constipação e enxaqueca terem tratamentos muito parecidos.

O problema com o modelo de MTC é que a individualização é minuciosa, isso não chega a ser um problema para o paciente, mas quando vamos tentar uma terapia ou um jeito de conduzir o caso de um certo paciente não podemos nos basear em informações sobre pessoas que tiveram o mesmo sintoma no passado. E isso causa confusão e uma lentidão na evolução de novas modalidades terapêuticas. Além disso é essa a limitação fundamental para que a MTC não consiga ser "100% Científica", pois grandes grupos de pessoas com o mesmo sintoma, não necessariamente serão tratadas do mesmo jeito.


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Acredito que a Medicina Ocidental seja uma ótima companheira da Medicina Tradicional Chinesa pois sem uma estaríamos presos nas limitações da outra, e vice versa.
A Medicina Ocidental poderia se beneficiar muito com a individualização de cada caso enquanto à MTC seria mais aceita se mais trabalhos científicos fossem apresentados comprovando sua eficácia.
Não acredito que nenhuma dessas soluções seja fácil nem praticável a curto prazo com as informações disponíveis, mas acho que talvez em um futuro não tão distante possamos sonhar em uma medicina total, sem essa divisão de Ocidental e Tradicional Chinesa.


Para pensar:

Existe atualmente uma corrente dentro da MTC que quer a todo custo fazer pesquisas o mais "Científicas" possível, desse modo dando alguma forma de "legitimação" da MTC perante a comunidade médica internacional.
Embora eu acredite que esse esforço seja louvável, não acho que chegamos a um modelo em que conseguimos "randomizar" os grupos de modo satisfatório ainda.
"Randomizar" é um termo para designar que o paciente que está se submetendo a um certo tratamento experimental não sabe se está usando o medicamento de verdade ou um placebo. Nas pesquisas mais modernas de MTC o que se faz é colocar agulhas em locais onde NÃO existem pontos de acupuntura, mas muita gente acredita que só o fato de inserir essas agulhas já é um tipo de tratamento.

Já na Medicina Ocidental existe um esforço para se desligar do modo Biológico/Determinista de classificar as doenças e suas causas e partir para o que em Medicina da Comunidade está se chamando de modelo etiológico Bio-Psico-Socio-Ambiental. Mas como esse modelo ainda está longe de estar "testado e aprovado" é uma corrente muito insipiente ainda.
Mesmo no nosso SUS onde esse modelo seria de maior valor, fala-se muito nessa questão, mas na prática os Profissionais da Saúde em geral (Médicos, Fisioterapeutas, Psicólogos, Enfermeiros, Administradores de Saúde e etc...) pensam muito pouco nesse modelo e acabam usando o modelo Biológico/Determinista na maioria das tomadas de decisões.


Como sempre qualquer dúvida, comentário ou sugestão será sempre bem vindo.





Bom espero que estejam gostando.

Ano que vem tem mais.

Desejo a todos um Feliz Natal, um Ano Novo repleto de realizações e projetos interessantes.

Se continuarem por aqui planejo voltar com tudo a partir do ano que vem (provavelmente a partir do dia 12 Janeiro porque estarei de férias ;)

Dr. Rogerio Luz
dr.rogerioluz@gmail.com